O cigarro no cinzeiro, o óculos sobre a mesa e o café já
morno na mão. No coração nada. Não tem ninguém no quarto, ninguém na cozinha, a
casa toda anda vazia como a caixa de correio também está a alguns meses.
Aquele jovem colega de trabalho havia dito “bota a cara no
mundo, Elias”
Os Rapazes da idade dele costumam ser felizes. Decidi que vou sair na
rua com o meu suéter surrado procurar alguma coisa. Felicidade não, sou velho
demais pra ser feliz.
Encontro um bar com
cheiro de mijo que parece ser o mais agradável dos bares com cheiro de mijo
aqui perto de casa, tomo duas cervejas bem geladas e uma dose de cachaça até
que chegam alguns jovens felizes e barulhentos demais para um velho rabugento como eu.
Saio do bar, atravesso a rua e um rapaz bêbado quase me
atropela com seu carro e a sua juventude, só não atropelou porque ainda estava sóbrio o
suficiente para desviar.
A essa altura da vida, um atropelamento não seria ruim. O impacto com o carro que antes me fazia correr pra calçada parece doer menos que a vida. O carro é como uma solução. Ele, uma corda, uma bala na cabeça, um punhado daqueles comprimidos que matam as piruas infelizes. Tudo isso leva a vida junto com a dor, mas quem se importa?
A essa altura da vida, um atropelamento não seria ruim. O impacto com o carro que antes me fazia correr pra calçada parece doer menos que a vida. O carro é como uma solução. Ele, uma corda, uma bala na cabeça, um punhado daqueles comprimidos que matam as piruas infelizes. Tudo isso leva a vida junto com a dor, mas quem se importa?
“Bota a cara no mundo, Elias”
O rapaz do trabalho não deve saber o que é o mundo pra um velho sozinho como eu, quando a gente é velho, tudo que deu errado vira remorso, e quando tudo deu errado o remorso é tão grande que engole qualquer sentimento que tentar se aproximar. Quando a gente fica velho a gente desiste. Eu costumo dizer quando tento parar de fumar “Agora não tem mais jeito, tô velho demais pra mudar alguma coisa”.
O rapaz do trabalho não deve saber o que é o mundo pra um velho sozinho como eu, quando a gente é velho, tudo que deu errado vira remorso, e quando tudo deu errado o remorso é tão grande que engole qualquer sentimento que tentar se aproximar. Quando a gente fica velho a gente desiste. Eu costumo dizer quando tento parar de fumar “Agora não tem mais jeito, tô velho demais pra mudar alguma coisa”.
Quando a gente é velho passa a vida esperando a hora de morrer por ser velho demais pra
viver e covarde demais pra morrer.
Acho que todo mundo acaba assim, mas seria mais fácil se
alguém dividisse esse remorso tão grande comigo, ou ocupasse uma parte de mim
com amor, carinho e todas essas coisas que a gente lê nos livros, talvez assim
sobrasse menos espaço vazio, talvez o remorso não tivesse tanto espaço pra
crescer, ou talvez eu mereça todo esse remorso.
Volto pra casa. Acho que vou comprar um cachorro. Um
cachorro ou uma corda.